Nessas horas, tenha sempre um
advogado a seu lado.
A situação começa em uma quarta
feira. Acordei às cinco da manha sentindo algo estranho comigo. Fiz um café e liguei
a TV. Senti que meu peito apertava, achei que era estresse, andava soltando
fogo pelas ventas. A sensação não passou. Fiquei meio agoniado, mas resisti.
Mais adiante, senti aquela onda de choque nos braços, os dois, e logo veio a dormência,
seguida de dormência no maxilar. Pronto, estava resolvido, eu estava tendo um
infarto, de novo.
Chamei meus vizinhos e pedi que alguém
me levasse ao hospital. Fui direto para a UTI. Remédio daqui e dali, um forte remédio
para limpar as artérias, médicos em volta, e acabei dormindo. Na sexta feira
fui fazer o cateterismo, que identificou três obstruções importantes nas minhas
artérias coronarianas. Feito o cateterismo na sexta, a desobstrução foi feita
com muito custo e os coágulos retirados. Muito bem.
Mas os stents não foram colocados,
estava agendada a angioplastia para a segunda. Cinco dias assistindo Ana Maria
Braga e Fátima Bernardes na TV, com mais seis pessoas na UTI, das quais quatro
em estado critico. Nada bom, principalmente a programação na TV.
No sábado percebi que a coisa não
estava boa. A primeira visita do dia foi do meu advogado. Veio no domingo também.
Na segunda, ele de novo é o primeiro, e me dá a noticia que o plano de saúde não
havia liberado os stents. O medico ao lado dele, tranquilo como sempre, falou
que eu teria que ficar no hospital. Disse que não ficaria, já que eu ia morrer,
queria morrer em casa com minhas cachorras, e ainda teria m tempo de ver com
quem elas iam ficar. Ele negou meu pedido, meu advogado ao lado, frio como
sempre, eles são assim, você morrendo e eles impassíveis a seu lado. Ainda bem.
Falei que ia embora assim mesmo,
que assinaria minha alta, e o medico de novo negou meu pedido. Falei que sairia
de qualquer jeito, mesmo com aquele avental de bunda de fora. Mas eu sabia que não
ia conseguir sair pela porta do hospital daquele jeito, seria barrado pelos
seguranças. Guilherme, meu advogado, falou que o medico estava certo. Não concordei,
falei que ia sair, e o medico negou novamente. Pedi, Guilherme chama a policia
que eu não vou viver cativo do hospital o resto dos meus dias, queria morrer em
casa, ainda teria uns dias de vida, queria estar em casa e morrer
sossegadamente, mesmo que com dor. Guilherme disse que não chamaria.
Todavia, ele logo me apresenta
uma solução. Iria entrar com uma liminar contra o plano de saúde, no plantão da
madrugada, e liberaria os stents. Ok, concordei, mas dei um prazo ate quarta
feira para tal. Caso contrario iria morrem em casa. Guilherme logo providencia
uma procuração, documentos e tais, e lá vai ele para o plantão. A frieza dos
advogados é impar, falei que quando crescesse queria ser igual a ele, ate seria
um advogado, mesmo sabendo que não tenho temperamento para tal.
No dia seguinte, eis que ele
adentra a UTI, e fala que conseguiu a liberação. A angioplastia estava marcada
para quarta feita às nove da matina. Falei que só acreditava quando entrasse na
sala de cirurgia. Na quarta as nove da manha, vieram me buscar. O procedimento
foi feito e na quinta fui liberado, não seria mais cativo do hospital, graças
ao Guilherme, meu advogado frio e calculista. Serei assim um dia. Sai com uma
calça que pegaram em minha casa, coloquei uma camiseta do avesso, nem abotoei a
calça, sai segurando pelo cinto desabotoado mesmo, entrei no carro de Guilherme
com outro colega, e cheguei em casa.Tudo pronto.
Estava salvo outra vez, já era o
segundo. Mais uns anos de vida. Amem.
Tenha sempre um advogado a seu
lado nos piores e melhores momentos da vida, principalmente depois dos
cinquenta, que é quando as cosias começam a dar errado.
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