Namoro é muito bom. É só você e a sua amada, e você não tem muita gente para agradar. A vida vai muito bem assim, só vocês e seu ninho de amor, mais um amigo ou dois de ambas as partes. O problema começa quando a moça pede para você conhecer a família dela. Começam os problemas. As mulheres tem uma dificuldade imensa de viver mais ou menos separadas da família, pai , mãe, primos, tios e tais. Pura insegurança. Para piorar um pouco a situação, todas elas em algum momento afastam você da sua família e de seus amigos. Você fica nas mãos da família dela, e nas mãos dela. Acaba a parte boa da relação ai, neste exato momento.
E lá vai você conhecer o pai e a mãe da sua amada. Mãe teoricamente e mais fácil, mas o pai não tem conversa, o cara em geral não vai com a sua cara, você está roubando a filha dele. Eu me lembro bem do dia em que eu fui conhecer a mãe da minha primeira esposa. Logo de cara, pelo jeitão que ela me olhou, eu percebi que ela não foi com a minha cara. E nao foi mesmo. Eu não tinha o tal pedigree necessário para ela gostar de mim. Era uma carreirista social, que achava que namorado da filha tinha que ter sobrenome, para que a importância de minha família, projetasse mais um pouco de luz sobre ela, e dita pudesse se gabar com as amigas que tinha. Puro narcisismo!!!! Depois vieram as amigas de família, as amigas da mãe e dela, todas tratadas pelo sobrenome, uma coisa assim meio pomposa. Mais adiante vieram os almoços de família, sendo que naquela época você tinha que ir para o almoço arrumado, bem arrumado para impressionar a todos, não é como é hoje que você chega com uma bermuda, sandália havaiana e camiseta rasgada é logo ovacionado. Não esquecendo de que tinha que ir como cabelo arrumadão, de preferência com uma boa e cheirosa brilhantina no cabelo.
Nestas visitas, seu vocabulário era logo tolhido. Palavrões nem pensar, contava muitos pontos negativos, e você começava viver em função da sua aceitação pela família da moça. Arroubos de beijos nem pensar, beijo de língua então, passava longe. Você virava um boneco de cera. Você escutava gracejos, piadinhas e alguns elogios meio marotos por parte das amigas da mãe da moça, coisa de quem ficou com e perereca piscando por você. Mas tinha que fazer que não entendia.
Você que enchia a cara nos finais de semana com sua amada, agora está restrito a poucos drinks, de preferência chics. Na casa da mãe da minha namorada, depois da praia, bebíamos um Vermout Cinzano, uma dose apenas, casa de rico é assim, eles comem mal e bebem pior ainda. Quando muito aparecia um tal de leite de onça, devidamente servido em um pequeno cálice, mínimo!!!!!!!!!!
Os assuntos eram muito moderados, falava-se muito pouco, e o mote era o sorriso meio amarelo que você tinha que dar a cada coisa que falavam. Gargalhadas nem pensar, não era educado isso nestas residências. Meu futuro sogro falava muito pouco, tinha uma dicção ruim, e quando falava mais parecia que estava emitindo algum grunhido tribal. Eu não entendia nada, mas balançava a cabeça dando um sinal de concordância. Discordar de alguma coisa que alguém falava era ofensa grave. Logo todos te olhavam com cara seria e mostrando espanto pela sua ousadia de ter pensado em discordar de alguma coisa.
A coisa toda era torturante. Sua namorada estava feliz e você infeliz, ela no ambiente de segurança, e você em um mar bravio sem flutuante e no meio de tubarões ferozes. Logo começavam as piadas sobre um possível casamento, e você sem a menor vontade de casar, isso para não falar nos planos de muitos filhos, e você nem casado era. Era muito difícil. Isso para não citar as perguntas sobre o que seu pai e mãe faziam. Meu pai era fiscal da Secretaria de Fazenda, o chamado na época de fiscal de rendas, e quando eu falava, todos no recinto se olhavam com certo ar de gravidade, pois isso era sinal de corrupção, que na época hipocritamente não era bem vista.
Eu saia do trabalho e algumas vezes passava na casa da minha namorada, e você tinha que subir. Você entrava na casa dela, achando que ia sair para um passeio ou alguns drinques, mas nada, você tinha que ficar. O namoro era na frente dos pais, ou seja, você não namorava, apenas fazia uma hora para ir embora de volta para a sua casa e nada mais. Quando saia nos finais de semana, o pai aparecia e logo recomendava que você levasse a moça de voltas às oito e meia, no maximo, isso era bem frisado. Não dava tempo de fazer muita coisa. Ficar sozinho dentro da casa dela sem os pais era proibido, você podia comer a dita, como se não comesse em outro lugar.
Na praia era a mesma coisa, só íamos com os pais dela e umas amigas da mãe. Pouco ficava sozinho com minha amada. Pior, minha sogra ia para a praia com um maio azul claro, e uma touca de plástico adornada com flores de plástico também. Não preciso dizer que eu morria de vergonha. Isso tudo foi me cansando demais, foi me enchendo o saco, muita gente em volta, muitas perguntas, privacidade zero, e ai vocês vão saber o que aconteceu no próximo post, que vai falar sobre as novas amizades femininas que isso acarreta.
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